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Sob pressão, excesso de trabalho e estresse, polícia resiste em procurar ajuda para saúde mental

Os recentes casos de ataques a tiros com mortes em um batalhão da Polícia Militar em São Paulo e em uma delegacia no Ceará, ambos em maio deste ano, trazem evidências para o adoecimento mental dos profissionais das forças de segurança e reforçam que há discussão para desmistificar os tabus que envolvem a saúde mental.

Diariamente, os policiais se deparam com pressão por metas, sobrecarga de trabalho, estresse. Isso sem contar com as ocorrências e condições adversas nas ruas. A psiquiatra Josany Alves explica que esse acúmulo de dificuldades enfrentadas pelos profissionais da segurança precisa de atenção porque pode afetar o rendimento deles e também trazer riscos a quem está próximo.

“Esses profissionais prestam serviço em condições adversas de segurança, com sobrecarga de trabalho, baixos salários e risco iminente de morte, em escalas de plantões noturnos. Inclusive, a inversão do ciclo sono-vigília é prejudicial ao sistema nervoso central. Muitas vezes, esses policiais, mesmo estando em momentos de lazer, têm que atuar na sua função. Por isso, sentimentos como sensação de ter que estar sempre em alerta, insegurança, medos diversos e tensão são observados nessa população e favorecem o adoecimento psíquico”, pontua.

Em 14 de maio deste ano, o policial civil Antônio Alves Dourado entrou na Delegacia Regional de Camocim, no Ceará, e atirou em quatro colegas, que morreram. Depois, ele se entregou em um batalhão da PM. Três dias antes do crime, ele havia sido atendido por uma psicóloga e recebeu laudo de instabilidade emocional, indicando a necessidade de ser afastado das atividades por pelo menos 15 dias.

“Vivemos um momento com altos índices de transtornos mentais entre os policiais – principalmente do sexo masculino. Muitas pessoas ainda acreditam que procurar tratar o seu psiquismo significa se colocar em uma situação de exposição perante seus colegas e superiores”, afirma a psiquiatra.

Segundo o mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 80 policiais militares e 21 civis cometeram suicídio em 2021.

A especialista cita ainda outros tabus que levam o policial a ter resistência em procurar ajuda para tratar da saúde mental.

“A formação do policial estimula o ‘mito do herói’, o que torna difícil que seu consciente admita que precisa de ajuda, uma vez que ‘heróis não adoecem’. Muitos também têm medo de serem afastados do trabalho e terem seus salários reduzidos. Há ainda o receio da repercussão negativa de um diagnóstico psiquiátrico, como o preconceito e o estigma.”

“Alguns policiais até conseguem reconhecer seus sintomas, mas consideram que procurar ajuda profissional ou ter que tomar remédios é sinal de fraqueza e acreditam que podem curar a si mesmos. É bastante comum, nesses casos, a busca do alívio do sofrimento no uso de álcool ou drogas ilícitas”, descreve a psiquiatra.

Josany Alves destaca que a procura por profissionais especializados acaba ocorrendo quando os policiais já estão numa fase muito avançada da doença mental.

“As queixas mais frequentes em consultas psiquiátricas são de sintomas depressivos, como as crises de ansiedade; uso de álcool e substâncias ilícitas; prejuízos na atenção ou concentração e insônia. Existem alguns sinais que podem indicar adoecimento mental e que podem ser percebidos pelas pessoas ao seu redor, como a irritabilidade, alterações de humor, sono ou apetite. A perda de interesse e prazer para realizar atividades de que antes gostava também é um alerta”, cita.

“É importante salientar que, conforme a intensidade ou gravidade dos sintomas e comprometimento no desempenho do policial na sua função, o mesmo poderá ser afastado do exercício da profissão, a fim de que haja pleno restabelecimento da sua saúde mental, a fim de que não haja situação de risco para si ou para outros”, comenta.

Fonte: JC Online

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