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Brasil é o Equador amanhã. Saiba porquê

No Equador, em 2022, o candidato à presidência, Fernando Villavicencio, foi assassinado com três tiros na cabeça. No Brasil, em 2018, o candidato Jair Bolsonaro levou uma facada.

No Equador, em abril passado, o presidente Guilherme Lasso liberou a posse e o porte de armas pela população. Aqui, o presidente Bolsonaro relaxou as restrições ao comércio de armas e estimulou a população a se armar.

No Equador, no fim do ano passado, o presidente Daniel Noboa privatizou grande parte das forças da segurança. No Brasil, faz mais de 20 anos que as forças de segurança vêm privatizando a si mesmas, criando as milícias, saudadas e estimuladas por vários políticos, a começar pelo ex-presidente e seus filhos.

No Equador, há poucos dias, o chefe da maior facção criminosa fugiu da cadeia; dois dias mais tarde, fugiu mais um. No Brasil, fugas de bandidos perigosos são comuns (duas recentes, no Rio: um miliciano fugiu pela porta da frente há apenas dois meses e o “presidente do Comando Vermelho” foi-se embora em 2021 depois de apertar a mão do secretário de Administração Penitenciária) — isso quando não são soltos pela Justiça.

No Equador, o presidente Daniel Noboa decretou estado de exceção e toque de recolher. Aqui, a polícia carioca matou o sobrinho de um chefe de milícia.

No Equador, traficantes sequestraram policiais, tomaram uma emissora de TV, uma universidade e cinco hospitais. Aqui, o chefe da tal milícia mandou incendiar 35 ônibus e 1 trem.

No Equador, Noboa declarou “conflito armado interno” e determinou que militares e policiais devem “neutralizar” os criminosos. Aqui, houve operações policiais com grande número de mortos na Bahia, no Rio, em São Paulo; os governadores Tarcísio de Freitas e Claudio Castro elogiaram a conduta da polícia que mata e se esforçam para não instalar câmeras nas fardas. Vale lembrar que o ex-presidente, que comemorava o “cancelamento de CPFs” e homenageava milicianos, tentou aprovar licença para que policiais matassem nas favelas.

O Equador é rota de tráfico de cocaína vinda da Colômbia e do Peru, os dois maiores produtores do mundo. A Amazônia, especialmente do “liberou geral” dado pelo governo anterior, é rota de tráfico de cocaína vinda dos mesmos países.

O Equador continua firme na política da “Guerra às Drogas”, inventada pelos EUA há mais de 40 anos; e o Brasil, também, enquanto o resto do mundo segue no caminho inverso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, anunciou que vai propor uma lei para tornar as penas para o tráfico de drogas ainda mais pesadas. (Nunca deu certo, mas a regra é clara: se algo não dá certo, insista, porque vai acabar dando.)

No Equador, a concentração de renda é brutal; aqui, também. No Equador, a educação pública é abaixo da crítica; aqui, também.

O Equador está polarizado entre direita e esquerda; nós, também. A polarização dá origem ao populismo, que faz com que se discutam identidades, não propostas. Noboa, Bolsonaro e Lula têm características populistas, com discursos que seus eleitorados querem ouvir, mas não têm propostas concretas e factíveis para abordar a questão das drogas, da violência, da educação, da distribuição de renda.

Enquanto todo mundo bate boca (e atira), os problemas crescem.

Por Ricardo Rangel (VEJA)

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