A história do lavrador José Agostinho Bispo, de 55 anos, terminou de forma trágica nesta terça-feira. Durante a rebelião na Delegacia de Pinheiro, ele foi um dos presos decapitados pelos líderes do motim. Bispo foi condenado a 63 anos de prisão por ter abusado de duas filhas. Uma delas, Sandra Maria Monteiro, foi mantida em cárcere privado durante 16 anos. Hoje, mais de seis meses após a prisão de Bispo, ela ainda vive em um casa-abrigo da prefeitura de Pinheiro, cidade a 340 quilômetros de São Luís.
Após ser condenado em dezembro de 2010, Bispo aguardava transferência para a Penitenciária de Pedrinhas. Ele estava detido em uma cela especial em Pinheiro, junto com outros presos acusados de crimes como pedofilia e estupro. Todos os seis executados estavam respondendo por esse tipo de crime.
Em janeiro deste ano, o então delegado regional interino de Pinheiro, Márcio Araújo, viajou para São Luís com o intuito de conseguir uma vaga para Bispo. Não teve resposta. Com a interdição da delegacia de Bacabal, na semana passada, o pedido de transferência de Bispo foi novamente adiado, de acordo com informações da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão.
A própria delegada regional de Pinheiro, Laura Amélia Barbosa, afirmou, após a condenação de Bispo, que muito provavelmente ele morreria na prisão. Quando Agostinho soube que seria condenado, ele pensou em cometer suicídio. Pelas primeiras informações sobre a rebelião, Agostinho foi uma das primeiras vítimas.
A filha
Resgatada em junho do ano passado pela Polícia Civil do Maranhão, após ser abusada sexualmente pelo próprio pai e mantida em cativeiro durante 16 anos em Pinheiro, Sandra Maria Monteiro, hoje com 29 anos, vive com ajuda do governo e está passando por tratamento para se recuperar dos anos de cárcere.
Sandra foi resgatada em 8 de junho de 2010, logo após a prisão de seu pai. Exames de DNA comprovaram que Agostinho Bispo teve sete filhos com a própria filha. Durante a investigação da Polícia Civil, descobriu-se que Bispo tinha abusado também de duas filhas-netas. A primeira filha de José Agostinho, Maria Sandra, também foi abusada por ele. Com ela, teve uma filha-neta. Pelos abusos sexuais contra duas filhas e duas filhas-netas, Agostinho foi condenado a 63 anos de prisão.
Segundo informações da Secretaria de Desenvolvimento Social de Pinheiro, a expectativa é que neste mês Sandra tenha uma residência fixa, em uma casa que será alugada e mantida pela prefeitura enquanto o governo do Estado e a prefeitura não terminam uma residência que está sendo construída para ela na zona rural de Pinheiro.
Hoje, na casa-abrigo, conforme o Conselho Tutelar, Sandra mora com outras mulheres que também foram vítimas de abuso sexual na cidade. “Muito foi prometido à Sandra e até agora apenas o básico está sendo feito”, resignou-se o conselheiro tutelar de Pinheiro, Ernesto Brito.
Além de morar em uma casa abrigo, ela vive com R$ 200,00 do programa Bolsa Família dos sete filhos. A alimentação e as roupas são bancadas pelo município. Ela ainda está sendo alfabetizada e os seus filhos estão estudando. Segundo o governo, a intenção é que, aos poucos, ela tenha condições de conseguir um emprego.
Desde quando foi resgatada, no ano passado, Sandra passou por um processo de ressocialização e de recuperação psicológica intenso para tentar se recuperar dos 16 anos de confinamento. Dois assistentes sociais passaram a acompanhar diretamente Sandra, além de psicólogos e médicos. “Sabemos que é difícil, mas aos poucos ela está voltando à normalidade”, diz Brito. O problema é que normalidade, nesse caso, é uma palavra díficil de definir.
Fonte: Último Segundo