Morre aos 86 Alberto Fujimori, ditador do Peru condenado por corrupção e violações de direitos humanos

Num continente em que a palavra populista se banalizou na América Latina como sinônimo de esquerdista, Alberto Fujimori, líder do Peru de 1990 a 2000 que morreu nesta quarta-feira (11) aos 86 anos, após o tratamento de câncer na língua, foi um típico populista —mas de direita.

“Depois de uma longa batalha contra o câncer, nosso pai, Alberto Fujimori, acaba de sair ao encontro do Senhor. Pedimos a quem o admirou que nos acompanhe com uma oração pelo descanso eterno da sua alma. Muito obrigado pai!”, diz a publicação no X de Keiko Fujimori, assinada por ela e pelos irmãos.

Apesar de ter sido condenado por violação de direitos humanos e por corrupção, e por ter alguns processos inconclusos contra ele de massacres comandados por esquadrões da morte sob seu comando, Fujimori ainda é visto e lembrado pelos peruanos mais humildes, principalmente os da região rural, como uma figura paterna que foi visitar os rincões do Peru onde líderes da elite limenha jamais haviam colocado os pés.

Percorrer essas regiões hoje é encontrar muitos dos que ainda formam sua base de apoio eleitoral, a mesma que vem transferindo seus votos a seus filhos, Keiko e Kenji Fujimori, e aos parlamentares do Força Popular, o partido fujimorista, hoje ainda o mais forte do Peru.

O fujimorismo conseguiu não apenas manter a solidez de seu partido desde o período ditatorial, como forçar a fragmentação dos históricos partidos peruanos. A saber, o Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA), de esquerda e indigenista, cujo principal líder recente foi Alán García, e o Ação Popular, de Belaunde Terry, sigla popular de centro-direita.

Nascido em Lima, em 28 de julho de 1938, filho de imigrantes japoneses, Fujimori se formou em engenharia agrônoma na universidade local. Mais tarde, viajaria para se especializar nos Estados Unidos e na França, nas universidades de Wisconsin e de Estrasburgo.

Ao voltar ao Peru, passou a apresentar o programa de TV “Consertando”, no qual oferecia propostas de soluções estruturais e econômicas ao país.

Em 1989, resolveu lançar-se candidato a presidente. Sua campanha eleitoral foi marcada por viagens a regiões e bairros populares considerados esquecidos por políticos tradicionais, onde se mostrava como um homem do povo, mas preparado pela sua formação acadêmica e técnica para resolver os problemas do país, que explicava de modo paciente, mas também autoritário e reafirmando que teria uma política de tolerância zero contra a “delinquência”.

Seus discursos conclamavam multidões em que ele, curiosamente, acusava seus opositores de empunharem bandeiras neoliberais (que ele depois abraçaria). Sua retórica era voltada para o eleitor de classe média e baixa, de origem imigrante, como ele, indígena e camponês.

Fonte: Folha de S. Paulo