A exato um ano antes das eleições presidenciais, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e a ex-senadora Marina Silva formalizaram neste sábado uma união que provoca uma reviravolta no cenário eleitoral de 2014. Com um capital político de 20 milhões de votos, mas sem uma legenda própria, Marina aceitou se filiar ao PSB de Campos. A tendência é que ela seja vice na chapa dele ao Palácio do Planalto.
A coalizão nasce com o propósito de tentar viabilizar uma “terceira via” à polarização entre PT e PSDB, que dominam a disputa nacional desde 1994. Tanto Campos quanto Marina são ex-ministros do governo Lula. Ambos saíram fortalecidos das eleições de 2010: ele foi reeleito governador com expressivos 82% dos votos e viu seu PSB ganhar musculatura no Congresso Nacional. Já Marina saiu das urnas com 19,33% dos votos válidos para a Presidência da República.
A decisão de Marina em aderir ao PSB foi costurada após sucessivas reuniões nas últimas 48 horas, depois do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter rejeitado o registro partidário para a Rede Sustentabilidade, idealizada por ela disputar o Palácio do Planalto. Em sete meses, a nova sigla não conseguiu reunir 492.000 assinaturas validadas em cartórios eleitorais para obter o registro, segundo determina a legislação brasileira. Em seu discurso neste sábado, Marina fez questão de criticar a decisão da Justiça Eleitoral: “Somos o primeiro partido clandestino criado em plena democracia”.
“A derrota ou a vitória só se mede na história. Apressam-se aqueles que pensam que a história se resume em uma canetada. A história é fruto das passadas de homens e mulheres que, quando não podem construir novo caminho, se dispõem a nova maneira de caminhar. Se não é possível um novo caminho, há que se aprender uma nova maneira de caminhar.”
Com a Rede fora das urnas em 2014, Marina teve de buscar uma legenda para não correr o risco de perder seu capital político. Recebeu convites de sete siglas, como o PPS e o nanico Partido Ecológico Nacional (PEN). Mas optou por unir forças com Campos e firmar um documento que assegurasse a “integridade partidária” das duas siglas.
“O compromisso dessa coligação programática é de manter as conquistas, reparar os erros e enfrentar os novos desafios. É o começo de uma caminhada. Vamos aprofundar nossos programas, mas com certeza isso não é a Marina entrando em um partido para conseguir uma legenda para ser candidata. É a Marina entrando em um partido para chancelar o programa da Rede e, na discussão democrática, adensar o programa de uma candidatura que já está posta.”
Plano C – Em sua fala, Marina chamou a escolha pelo PSB de “plano C”. “Todos me perguntavam de plano B, mas nunca perguntavam de plano C. Qual é o plano C? Eu só tinha a letra. O plano C é o Eduardo Campos, é o PSB, porque é um partido histórico, com bandeiras históricas. No dia da criação da Rede, ele [Eduardo Campos] nos mandou uma carta de reconhecimento assinada pelo seu presidente talvez antecipando esse momento que só Deus sabia.”
Ela também fez questão de frisar que possui “diferenças” com Campos, mas disse que ambos “estão sendo cassados” no cenário político brasileiro. “Temos um governador que trabalha para viabilizar sua candidatura legítima a Presidência, que trabalha a duras penas de não ser cassado de forma diferente da minha, sendo minado. Se esse partido tem programa, identidade e até candidatura. Diziam que o esperado era que a Marina se resigne e vá ser a candidata da internet. Todo mundo ia curtir e um bando de gente ia me cutucar, mas isso não ia mudar absolutamente nada. Isso ser melhor para mim, confortável. Diziam, ‘Marina, você tem que ser madre Teresa de Calcutá da política, ficar lá nãos nuvens, pra que partido?’”, disse.
Fonte: VEJA